quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Quando o Amor desceu com o perdão.


“O amor nasceu em meio ao frio de uma noite,
sem um lugar para ficar, desaconchego sim.
Palhas para deitar e ao seu redor os animais que ali moravam.
Mesmo sendo Rei, pobre se fez, só por amor.”

(Trecho da música: Simplesmente Amar, Banda Vida Reluz)

O que faz alguém amar a ponto de descer e dar perdão?
Jesus é Deus, vive no seio da Santíssima Trindade desde e para toda a eternidade.
Assentado no trono era, é, e sempre será revestido de glória, adorado e servido pelos anjos. Tudo
estava, está e estará aos Seus pés, ao Seu domínio nada escapa. Entretanto, desde o início dos
tempos quis partilhar Seu reino de amor.

Criou céu e terra, águas e florestas, animais marinhos e terrestres, criou o ser humano à
sua imagem: “a imagem do Amor Deus os criou” (cf. Gn 1,26). Tudo colocou na mão do homem: a
terra e o que nela existe, inclusive sua liberdade de escolha.

O homem começou bem os planos de Deus, tinha Sua atenção e em todo o entardecer,
conversavam como bons e íntimos amigos. Deus olhara e vira que tudo quanto fez era bom. No
entanto, uma má escolha do homem e da mulher colocou todo o plano de amor em risco.
Desobedeceram e escolheram um caminho mal, sem volta; Pecaram. Toda a escolha que os
homens fizeram fora de Deus, e algumas vezes até mesmo pensando ser ou estar em Deus,
acabou em desgraças contra a própria vida e a vida de outros, poucos ou muitos.

Todo pecado é uma forma de desobediência a uma orientação divina de princípio eterno,
ou seja, que não pode ser desligada da vida humana para que se tenha sentido com a vida divina.
É desgraça para o ser humano, no sentido de gerar morte, cuja mais dramática é a espiritual, pois
vem a separação do homem para com Deus e suas consequências: perda da graça, da visão
beatífica e da união íntima, e a condenação eterna. Do pecado também provém a morte física:
com as guerras e assassinatos.... Enfim, toda calamidade, todas as formas de imoralidade e o
desrespeito com a vida têm como fonte o pecado.

Para tratar o pecado foram prescritos vários tipos de sacrifícios, todavia não sendo
suficientes para apaziguar a dor que estava no coração de Deus em relação aos homens, que
continuavam a se afastar por suas inúmeras e graves ofensas ao Senhor, com rituais apenas
exteriores seus corações não correspondiam ao que lhes era pedido: exclusividade e santidade à
Deus.

O crescente abismo que emergia entre ambos era preocupante e aparentemente sem
volta. A fragilidade humana sobressaia mais às obras mortas do que à vida divina, a crescente
arrogância dos homens a respeito das coisas celestes, o descaso com o próximo, a licença dos
costumes, as imodéstias, a corrupção, a violação dos dias santificados, as detestáveis blasfêmias
contra o Pai, e a relativização com o pecado (que se torna iniquidade quando nos acostumamos
com a ideia de que o pecado já não é tão grave assim). Vendo isto a Trindade Santa se interpõe:
ou vamos até eles, ou se perderão para sempre.

Nós, merecedores da ira Divina pela imensidão de nossos pecados, não conseguimos
entender o que Deus realmente quer de nós, ou eventualmente até entendemos mas preferimos
as coisas fáceis da vida, os prazeres e imoralidades da carne, aquilo que é banal e perece. Nós
temos traves nos olhos e não enxergamos que um Deus Santo exige de nós santidade, que um
Deus Justo exige que sejamos justos, que um Deus que é Amor exige que amemos. Estes são
alguns dos nossos fracassos por conta das obras más da carne: não amamos, não somos justos,
não temos buscado a santidade “sem a qual ninguém poderá ver a Deus” (cf. Hb 12,14). Neste
cenário, o que Deus poderia fazer mais pela humanidade?

Dar-se a si mesmo, à nós, por amor, para nos reconciliar com Ele.

Isto é amor, o Verbo na Trindade tinha tudo e se bastava em Si, e quis continuar
distribuindo a amizade, a presença, a infinita graça da vida ao Seu lado. Mesmo que sejamos
falhos e frágeis, mas ainda há um restolho de bondade em nós, mesmo que precisemos de um
empurrãozinho extra, Deus veio em nosso socorro sabendo que sozinhos não conseguiríamos.

Amar é doar-se sem esperar recompensa, e a Trindade bem sabe disto. Por esse motivo
Jesus desce - o amor desce, o perdão desce, a misericórdia desce, o oferecimento e a doação de
si, a quem não merece, desce. “Por que Deus é amor e nos amou primeiro” (cf. 1Jo 4,8b.19b).
Jesus se fez um de nós só por amor, para não sermos destituídos da graça de Deus (cf. IIPe 3,7;
Rm 1,18ss), porque Ele quis, Ele quis! Não foi obrigado, foi por amor.

Mas Ele não veio aos homens na forma que se esperava: um general, um guerreiro, um
revolucionário, etc.. O amor veio simples, e o perdão fluiu das dores em seu corpo Santo (cf. Is
53,1-12), por causa disto ainda custa-nos entender o que valeu Sua vinda à nós.

Quem poderia imaginar que o pequeno ser que chegara ao mundo pelo ventre fértil da
Virgem Maria seria Aquele que salvaria o mundo das obras mortas do pecado? Quem poderia
imaginar que aquela frágil criança carregaria toda a dor e sofrimento do mundo para nos dar glória
e seria crucificada quando se tornasse adulta para nos dar redenção? O amor veio escondido nos
traços finos de um inocente que levou nossa culpa. O cordeirinho Santo de Deus veio até nós e
trouxe o perdão das ofensas. Ele mesmo seria o perdão, o sacrifício, o altar, o sacerdote, o rei que
salvaria seu povo dos laços da morte eterna.

Chamou-se Emanuel: Deus conosco. Ou seja, aquele que era inatingível, torna-se
acessível. Quem parecia distante, agora é presença. O que caminhava sobre os querubins, agora
caminha em meio aos homens. O Verbo, a Palavra de Deus se fez carne e habitou entre nós (cf
Jo 1,14). Que maravilha, que amor, que dispensa de si mesmo para trazer de volta aqueles que
se perderam. Que criança era aquela que o mundo não soube acolher? Era o Deus menino, escondido nas palhas, entre os animais. Escondido em vestes de criança. Que menino era
aquele? Um recém-nascido, frágil, sem mostra nenhuma de ser o esperado das nações, que
regeria o mundo com cetro de ferro, que salvaria dos pecados, da condenação eterna.
Que amor é esse que desce com o perdão? Que paz é essa gerada no coração humano
após a reconciliação? Que Deus é esse que ousou em se misturar conosco para recuperar nossa
dignidade de imagem e semelhança e agora sermos chamados Filhos de Deus? Tudo teve inicio
naquela criança, no Menino Deus, Jesus.

Diante Dele “somos chamados a abandonar a nossa pretensão de autonomia - este é o
nó da questão -, para acolher a verdadeira forma de liberdade, que consiste em conhecer quem
temos diante de nós e servi-lo: é o Filho de Deus. Ele veio para nos mostrar a face do Pai rico de
amor e de misericórdia” (Papa Francisco, audiência 30/12/2015).

Que interrogação no coração dos homens quando a fragilidade se torna força aos olhos de
quem sofre as duras penas que a vida lhe reservou. Todos somos pecadores, eis nossa
fragilidade, mas também nossa força quando reconhecemos ser dependentes da graça de Deus e
necessitados de Seu socorro, como aquele Menino Deus nos braços de sua mãe à dar-nos o
exemplo – Ele tudo podia, e quis precisar de seu doce amparo.

Temos o livre arbítrio que pode levar-nos à danação ou à eternidade. E mais que isso,
temos um Deus que quis nos visitar, perdoar e amar. Basta abrir o coração e acolher Seus doces
anseios, humildemente erguendo os braços em clamor sempre que vier à tona nossa frágil
condição, certamente Ele não cessará de dispensar amor e perdão!

(Rone e Gislaine Honório)

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