quinta-feira, 16 de julho de 2020

Há Poder em Suas Palavras

          Às vezes nos esquecemos que temos uma boca e falamos coisas inúteis, piadas infames, mentiras, tolice sobre tolice. Jogamos as palavras sem pensar em seus efeitos. Temos necessidade de falar, de falar bobeiras. Poucas são as pessoas que usam da palavra com sabedoria, docilidade, para provocar o bem.... É bom que saibamos que toda palavra bem ou mal proclamada terá seu efeito e seu retorno.

          Inclusive a nossa salvação depende muito das coisas que falamos. Em certo momento Jesus disse: “Porque pelas tuas palavras serás justificado e pelas tuas palavras serás condenado” (Mt 12,37). Portanto, é mais do que sério, é urgente que reflitamos sobre as coisas que dizemos ou escrevemos, pois nela pode estar nossa vida ou nosso fim.

          Na Sagrada Escritura a palavra tem um enorme peso. Ela representa a voz de Deus e aquilo nos quer falar. Nela vemos que pela palavra Deus criou todas as coisas: “e Deus disse” e do nada vem a forma a vida. Pela palavra Ele transformou barro em ser humano, criou um ambiente, um lugar (céu e terra). Assim, compreendemos que a palavra proferida tem poder criador. Podemos, então, pela palavra proclamada, criar um ambiente favorável a uma ação benigna ou maligna.

          Abençoar ou amaldiçoar é uma autoridade dada aos homens, se assim podemos dizer, logo é muito sério e preocupante a forma com que lidamos com ela. Da minha “boca sai benção e maldição” (cf. Tg 3,10), posso ferir ou sarar, alegrar ou entristecer, salvar ou condenar, gerar vida ou morte. Tudo depende daquilo que falamos.

          Palavra de Maldição é uma palavra ou conjunto delas que revela a vontade de que algo negativo aconteça. Por meio dela criamos um ambiente propício para uma ação maléfica sobre a vida de uma pessoa ou sobre um objeto. Por essa palavra é invocada ou quer invocar uma maledicência (crítica negativa), uma desgraça, ruína e até a morte de alguém. Por esta palavra de maldição um objeto ou um local podem se tornar amaldiçoados.

          Porém, e geralmente, não amaldiçoamos ou ofendemos a nós mesmos, o alvo é sempre outra pessoa (aqueles que não nos agradam e também os mais próximos), ou coisas materiais que a outros pertencem, neste caso, pode-se até não ter tal pessoa como inimiga, mas tem inveja de tudo o que o ela possui, então, invoca algo para que se se tenha prejuízos no bem material.

          Quantos de nós, principalmente os irmãos de idade mais longa, não lançaram palavras de poder sobre seus filhos ou crianças. Em alguns casos na ignorância, mas foi lançada. Talvez você já tenha ouvido: “seu saci/sacizinho” (que comete travessuras, diabinho), “que capetinha ou diabinho”(para dizer que é uma criança travessa), “seu danado/danadinho” (que quer dizer corrompido, estragado, maldito, condenado às penas do inferno), coidatinho/tadinho (o que é infeliz, desgraçado)... Exemplos corriqueiros que significam e carregam um grande peso negativo, de maledicência.

Quantas vezes falamos as pessoas: “você nunca vai dar certo (ou vencer) na vida”, “tal pessoa é uma praga, um desgraçado”, “você não vai conseguir dar conta”, “você não consegue ser organizada”, “ agora fez, mas nunca dá continuidade”..., parecem frases inofensivas, soltas, mas em algumas pessoas pode fazer um grande estrago.

Em suma não temos cuidado com o que falamos, jogamos qualquer coisa pra fora, fazemos da nossa boca um sepulcro ao contrário que deveria ser um sinal de benção e paz aos que nos rodeiam. Por causa de nossa imprudência temos sido canais de maldição: "A língua, porém, nenhum homem a pode domar. É um mal irrequieto, cheia de veneno mortífero. Com ela bendizemos o Senhor, nosso Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus" (Tg 3, 8-9).

          Então, ao contrário da palavra de maldição temos a palavra de benção que é lançar palavras ou frases proféticas, falar bem, elogiar que é igual a bendizer. Num sentido mais profundo e religioso é invocar a graça de Deus sobre uma pessoa ou, por extensão, em um objeto. Nos adverte o apóstolo: "Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só a que for útil para a edificação, sempre que for possível, e benfazeja aos que ouvem"  (Ef 4, 29).

Nosso dever como batizados é de comunicar a benção inclusive sobre aqueles que nos fazem o mal. O Apóstolo Pedro nos diz: "Não pagueis mal com mal, nem injúria com injúria. Ao contrário, abençoai, pois para isto fostes chamados, para que sejais herdeiros da bênção." (IPe 3, 9). Jesus disse que amar o que é amigo, àquele que é de casa, é fácil e natural, porém difícil e sobrenatural é amar e abençoar quem nos prejudica ou se torna um tipo de inimigo.

         Diga as pessoas: "você pode", "você consegue", "não custa tentar", "você é uma benção"... etc.

Ainda e não menos importante a saber que o maior beneficiado somos nós mesmos quando abençoamos. Tem uma coisa no popular que diz: “tudo o que vai volta”, é o poder da atração, então, é bem melhor lançarmos muitas palavras de bênçãos, ternura e amizade, para que nos volte tudo. É muito mais inteligente.

         Além disso, é muito mais agradável conviver com pessoas que sempre desejam o bem aos outros, que abençoam, pessoas trazem o céu a nós, transformam a atmosfera de ruídos em paz e quietude. “O que mede suas palavras possui o conhecimento, quem é calmo de espírito é um homem inteligente. Mesmo o insensato (tolo) passa por sábio, quando se cala, por prudente, quando fecha sua boca” (Pr 17,27-28).

Por fim, quantas doenças do corpo e da alma não seriam curadas ou sairiam de nossa presença com a alma preenchida de paz se proferíssemos com mais doçura, gentileza e amor nossas falas.

Para refletir:
1. Quais são as palavras que mais saem da minha boca? São palavras de amor, de irritação, palavras ditas só por falar, palavras que apoiam, diminuem, constroem ou destroem...
2. Quando estou bravo ou com raiva despejo palavras pesadas e ofensivas?
3. Como você transmite as palavras: com humildade ou com arrogância?
4. A partir de hoje, primeiro vou pensar antes de falar?

Seja você um canal de benção e amor na vida dos seus irmãos, parentes, amigos e inimigos.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Meu lar

Como gosto de chegar no meu lar.
Lá sou recebido com um belo sorriso,
com um forte abraço e um doce beijo.
Lá sempre me perguntam como estou e como foi meu dia.
A casa é simples, mas o lar é composto por
grandes doses de paz, oração, amor e fé.
Como gosto de chegar no meu lar.
Lá a porta está sempre aberta.


quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Quando o Amor desceu com o perdão.


“O amor nasceu em meio ao frio de uma noite,
sem um lugar para ficar, desaconchego sim.
Palhas para deitar e ao seu redor os animais que ali moravam.
Mesmo sendo Rei, pobre se fez, só por amor.”

(Trecho da música: Simplesmente Amar, Banda Vida Reluz)

O que faz alguém amar a ponto de descer e dar perdão?
Jesus é Deus, vive no seio da Santíssima Trindade desde e para toda a eternidade.
Assentado no trono era, é, e sempre será revestido de glória, adorado e servido pelos anjos. Tudo
estava, está e estará aos Seus pés, ao Seu domínio nada escapa. Entretanto, desde o início dos
tempos quis partilhar Seu reino de amor.

Criou céu e terra, águas e florestas, animais marinhos e terrestres, criou o ser humano à
sua imagem: “a imagem do Amor Deus os criou” (cf. Gn 1,26). Tudo colocou na mão do homem: a
terra e o que nela existe, inclusive sua liberdade de escolha.

O homem começou bem os planos de Deus, tinha Sua atenção e em todo o entardecer,
conversavam como bons e íntimos amigos. Deus olhara e vira que tudo quanto fez era bom. No
entanto, uma má escolha do homem e da mulher colocou todo o plano de amor em risco.
Desobedeceram e escolheram um caminho mal, sem volta; Pecaram. Toda a escolha que os
homens fizeram fora de Deus, e algumas vezes até mesmo pensando ser ou estar em Deus,
acabou em desgraças contra a própria vida e a vida de outros, poucos ou muitos.

Todo pecado é uma forma de desobediência a uma orientação divina de princípio eterno,
ou seja, que não pode ser desligada da vida humana para que se tenha sentido com a vida divina.
É desgraça para o ser humano, no sentido de gerar morte, cuja mais dramática é a espiritual, pois
vem a separação do homem para com Deus e suas consequências: perda da graça, da visão
beatífica e da união íntima, e a condenação eterna. Do pecado também provém a morte física:
com as guerras e assassinatos.... Enfim, toda calamidade, todas as formas de imoralidade e o
desrespeito com a vida têm como fonte o pecado.

Para tratar o pecado foram prescritos vários tipos de sacrifícios, todavia não sendo
suficientes para apaziguar a dor que estava no coração de Deus em relação aos homens, que
continuavam a se afastar por suas inúmeras e graves ofensas ao Senhor, com rituais apenas
exteriores seus corações não correspondiam ao que lhes era pedido: exclusividade e santidade à
Deus.

O crescente abismo que emergia entre ambos era preocupante e aparentemente sem
volta. A fragilidade humana sobressaia mais às obras mortas do que à vida divina, a crescente
arrogância dos homens a respeito das coisas celestes, o descaso com o próximo, a licença dos
costumes, as imodéstias, a corrupção, a violação dos dias santificados, as detestáveis blasfêmias
contra o Pai, e a relativização com o pecado (que se torna iniquidade quando nos acostumamos
com a ideia de que o pecado já não é tão grave assim). Vendo isto a Trindade Santa se interpõe:
ou vamos até eles, ou se perderão para sempre.

Nós, merecedores da ira Divina pela imensidão de nossos pecados, não conseguimos
entender o que Deus realmente quer de nós, ou eventualmente até entendemos mas preferimos
as coisas fáceis da vida, os prazeres e imoralidades da carne, aquilo que é banal e perece. Nós
temos traves nos olhos e não enxergamos que um Deus Santo exige de nós santidade, que um
Deus Justo exige que sejamos justos, que um Deus que é Amor exige que amemos. Estes são
alguns dos nossos fracassos por conta das obras más da carne: não amamos, não somos justos,
não temos buscado a santidade “sem a qual ninguém poderá ver a Deus” (cf. Hb 12,14). Neste
cenário, o que Deus poderia fazer mais pela humanidade?

Dar-se a si mesmo, à nós, por amor, para nos reconciliar com Ele.

Isto é amor, o Verbo na Trindade tinha tudo e se bastava em Si, e quis continuar
distribuindo a amizade, a presença, a infinita graça da vida ao Seu lado. Mesmo que sejamos
falhos e frágeis, mas ainda há um restolho de bondade em nós, mesmo que precisemos de um
empurrãozinho extra, Deus veio em nosso socorro sabendo que sozinhos não conseguiríamos.

Amar é doar-se sem esperar recompensa, e a Trindade bem sabe disto. Por esse motivo
Jesus desce - o amor desce, o perdão desce, a misericórdia desce, o oferecimento e a doação de
si, a quem não merece, desce. “Por que Deus é amor e nos amou primeiro” (cf. 1Jo 4,8b.19b).
Jesus se fez um de nós só por amor, para não sermos destituídos da graça de Deus (cf. IIPe 3,7;
Rm 1,18ss), porque Ele quis, Ele quis! Não foi obrigado, foi por amor.

Mas Ele não veio aos homens na forma que se esperava: um general, um guerreiro, um
revolucionário, etc.. O amor veio simples, e o perdão fluiu das dores em seu corpo Santo (cf. Is
53,1-12), por causa disto ainda custa-nos entender o que valeu Sua vinda à nós.

Quem poderia imaginar que o pequeno ser que chegara ao mundo pelo ventre fértil da
Virgem Maria seria Aquele que salvaria o mundo das obras mortas do pecado? Quem poderia
imaginar que aquela frágil criança carregaria toda a dor e sofrimento do mundo para nos dar glória
e seria crucificada quando se tornasse adulta para nos dar redenção? O amor veio escondido nos
traços finos de um inocente que levou nossa culpa. O cordeirinho Santo de Deus veio até nós e
trouxe o perdão das ofensas. Ele mesmo seria o perdão, o sacrifício, o altar, o sacerdote, o rei que
salvaria seu povo dos laços da morte eterna.

Chamou-se Emanuel: Deus conosco. Ou seja, aquele que era inatingível, torna-se
acessível. Quem parecia distante, agora é presença. O que caminhava sobre os querubins, agora
caminha em meio aos homens. O Verbo, a Palavra de Deus se fez carne e habitou entre nós (cf
Jo 1,14). Que maravilha, que amor, que dispensa de si mesmo para trazer de volta aqueles que
se perderam. Que criança era aquela que o mundo não soube acolher? Era o Deus menino, escondido nas palhas, entre os animais. Escondido em vestes de criança. Que menino era
aquele? Um recém-nascido, frágil, sem mostra nenhuma de ser o esperado das nações, que
regeria o mundo com cetro de ferro, que salvaria dos pecados, da condenação eterna.
Que amor é esse que desce com o perdão? Que paz é essa gerada no coração humano
após a reconciliação? Que Deus é esse que ousou em se misturar conosco para recuperar nossa
dignidade de imagem e semelhança e agora sermos chamados Filhos de Deus? Tudo teve inicio
naquela criança, no Menino Deus, Jesus.

Diante Dele “somos chamados a abandonar a nossa pretensão de autonomia - este é o
nó da questão -, para acolher a verdadeira forma de liberdade, que consiste em conhecer quem
temos diante de nós e servi-lo: é o Filho de Deus. Ele veio para nos mostrar a face do Pai rico de
amor e de misericórdia” (Papa Francisco, audiência 30/12/2015).

Que interrogação no coração dos homens quando a fragilidade se torna força aos olhos de
quem sofre as duras penas que a vida lhe reservou. Todos somos pecadores, eis nossa
fragilidade, mas também nossa força quando reconhecemos ser dependentes da graça de Deus e
necessitados de Seu socorro, como aquele Menino Deus nos braços de sua mãe à dar-nos o
exemplo – Ele tudo podia, e quis precisar de seu doce amparo.

Temos o livre arbítrio que pode levar-nos à danação ou à eternidade. E mais que isso,
temos um Deus que quis nos visitar, perdoar e amar. Basta abrir o coração e acolher Seus doces
anseios, humildemente erguendo os braços em clamor sempre que vier à tona nossa frágil
condição, certamente Ele não cessará de dispensar amor e perdão!

(Rone e Gislaine Honório)

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Maria, Mãe e Modelo da Caridade


São João em sua carta nos diz: “Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro” (I Jo 4,19), portanto nosso amor ao próprio Deus e ao próximo é uma resposta ao amor de Deus em nós; por nossas forças não podemos amá-los do modo que merecem, pois nosso amor é pobre, egoísta e arrogante, entretanto, quando estamos entranhados do amor de Deus surge em nós um resultado maravilhoso em olhar com zelo para eu mesmo, para o outro e para Deus. O amor em nós é enaltecido e intensificado na medida em que nos deixamos aproximar de Deus e sermos moldados por Ele. Agora, como imaginar em Maria o significado desse amor? Nós fomos tocados pelo amor, em Maria o próprio amor Se encarnou.

“O amor para com o próximo nasce do amor para com Deus. Ora, como nunca existiu, nem jamais existirá, quem mais que Maria Santíssima amasse a Deus, assim nem houve, nem haverá, quem mais que a Santíssima Virgem tenha amado e ame o próximo. Basta saber que esta sua caridade a levou a oferecer à morte, entre as dores mais amargas, e pela nossa salvação, o seu Filho unigênito. Felizes de nós se soubermos imitar uma Mãe tão carinhosa” (Santo Afonso de Ligório. Tomo II, 1921).

Veja o que o Amor (Deus) fez com a caridade em Maria: “"Maria, solícita, partiu para a região montanhosa para visitar sua prima Isabel" (Lc 1, 39-40). Solicito(a) é uma pessoa que não poupa esforços para ajudar o outro, é uma pessoa útil e atenciosa. O que Maria foi fazer na casa de Isabel? Passear? Não mesmo! Ela foi ao encontro do outro, se preocupou, pois sua prima era de idade avançada. Assim, ela nos ensina que a caridade leva-nos ao comprometimento em solidariedade para com nossos familiares, vizinhos e conterrâneos, pois a caridade não tem limites.

Outro grande exemplo de preocupação com o próximo foi nas Bodas de Caná, quando ela ficou aflita por aquela família e pediu ao Filho: “Eles não tem vinho!” (Jo 2,3). Parece algo sem relevância, mas aí está a obra da caridade: apressar-se quando se trata de socorrer, seja qual for a circunstância ou motivo. Geralmente nós escolhemos pelos motivos, datas e locais que ajudaremos o outro, mas na hora de urgência e de necessidade não temos a caridade entranhada em nós. A caridade não consiste somente em dar algo material, talvez o tempo, a atenção ou o afeto àquele que está enfermo na alma, sejam tão ou mais importantes que o material.

Maria, hoje está no céu com Seu Filho, mas a obra de misericórdia permanece. Pobres de nós se ela não rogasse em nosso favor! Sua intercessão aos pés de Jesus é uma obra meritória de caridade por nós, tão necessitados do amor de Deus, e lá do céu Maria por nós advoga (até aqui ela nos ensina que se nada tivermos a oferecer, ainda temos como caridade o motivo de orar pelos outros); somos conhecedores disto, os santos da Igreja testemunham, os dogmas da Igreja testemunham, os homens de boa vontade testemunham: Maria é modelo de caridade.

“Usemos de caridade para com o próximo, assim nos ensina Maria, pois é útil para tudo e nos faz felizes nesta e na outra vida... e quem socorre os necessitados faz com que o próprio Deus lhe fique sendo devedor” (Santo Afonso de Ligório. Tomo II, 1921).

(Rone Honorio)